Dicas

Brinquedos e atividades que favorecem a criança autista

Brincar é muito mais do que um simples momento de diversão — é a forma como a criança aprende, se comunica e compreende o mundo.
No caso das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o brincar ganha ainda mais importância, pois se torna uma poderosa ferramenta de desenvolvimento, vínculo e inclusão.

Neste artigo, vamos explorar como o lúdico pode apoiar o desenvolvimento global da criança autista, com sugestões práticas de brinquedos e atividades que favorecem diferentes áreas.

O brincar como forma de comunicação

Crianças autistas podem apresentar maneiras diferentes de interagir, se expressar ou compreender estímulos.
Por isso, o brincar é uma via segura e acolhedora para estabelecer conexão emocional e comunicação.

Durante a brincadeira, é possível:

  • Trabalhar a linguagem verbal e não verbal;

  • Incentivar a troca de olhares e turnos de fala;

  • Desenvolver atenção compartilhada;

  • Criar experiências positivas de socialização.

 Mesmo quando a criança prefere brincar sozinha, o adulto pode entrar no seu mundo — observando, imitando gestos e ampliando, aos poucos, o repertório lúdico.

1. Brinquedos e atividades sensoriais

As crianças autistas costumam ter diferentes níveis de sensibilidade a sons, luzes, texturas ou movimentos.
Brincadeiras sensoriais ajudam a promover autorregulação emocional, coordenação e curiosidade.

Sugestões de brinquedos sensoriais:

  • Areia cinética, massinha e argila;

  • Garrafas sensoriais com água, glitter e óleo;

  • Painéis com diferentes texturas (macio, áspero, rugoso);

  • Bolinhas de gel e brinquedos de compressão;

  • Potes com materiais naturais (grãos, conchas, tecidos).

Dica prática: observe como a criança reage. Se algo incomodar (som, textura, cheiro), reduza o estímulo.
O objetivo é oferecer experiências agradáveis e seguras.

2. Brinquedos cognitivos e de linguagem

O desenvolvimento da linguagem e da atenção pode ser estimulado por brinquedos estruturados, mas sempre de forma leve e divertida.

🎲 Sugestões de atividades:

  • Jogos de sequência lógica ou pareamento;

  • Brinquedos de causa e efeito (pressionar e observar o resultado);

  • Encaixes, blocos e quebra-cabeças simples;

  • Livros interativos com imagens e sons;

  • Cartas de figuras para nomear e descrever ações.

💬 Dica: use a brincadeira como pretexto para conversar — descreva o que está acontecendo, nomeie objetos, repita palavras.
Assim, a criança associa a linguagem à ação concreta, fortalecendo a compreensão e a fala.

3. Brincadeiras que fortalecem o vínculo social

O brincar compartilhado é essencial para desenvolver interação e empatia.
Mesmo que a criança ainda não demonstre interesse em interagir, o adulto pode guiar com delicadeza e paciência.

👩‍👧 Sugestões:

  • Jogos de turno: “minha vez” e “sua vez”;

  • Brincadeiras de imitação (fazer caretas, gestos, sons);

  • Esconde-esconde ou brincadeiras com suspense;

  • Jogos corporais com música (“cabeça, ombro, joelho e pé”);

  • Atividades de movimento compartilhado, como dançar ou empurrar brinquedos grandes.

A presença atenta e respeitosa é o maior recurso terapêutico.

4. Brincadeiras de movimento e regulação corporal

O movimento é essencial para a autorregulação e o desenvolvimento motor.
Atividades que envolvem o corpo ajudam a organizar o sistema sensorial e liberar energia de forma saudável.

🚴 Sugestões:

  • Balanços e gangorras (propriocepção e equilíbrio);

  • Caminhar sobre almofadas, cordas ou circuitos simples;

  • Jogos de bola, bambolês e obstáculos;

  • Brincadeiras com tecidos, panos e lenços dançantes;

  • Pular corda ou colchões baixos.

💡 Para algumas crianças, o movimento pode ser a chave para encontrar calma e foco.

5. Brinquedos para expressão emocional e criatividade

A imaginação é um caminho poderoso para compreender emoções.
Brinquedos simbólicos — como bonecos, fantoches e kits de faz de conta — permitem que a criança externalize sentimentos e situações.

🎭 Exemplos:

  • Casinhas, fazendinhas, carrinhos;

  • Bonecos com diferentes expressões;

  • Fantoches de animais e pessoas;

  • Jogos de montar histórias;

  • Atividades com tintas e instrumentos musicais.

Essas experiências ajudam a dar nome às emoções, trabalhar a empatia e fortalecer o pensamento simbólico.

O papel do adulto: observar, respeitar e participar

Nem toda criança brinca da mesma forma — e tudo bem.
O papel do adulto é observar o ritmo, respeitar preferências e se adaptar ao modo como a criança se relaciona com o brincar.

👂 Algumas dicas importantes:

  • Evite interromper o foco da criança;

  • Dê tempo para que ela processe as ações;

  • Participe, mas sem controlar a brincadeira;

  • Valorize pequenas conquistas e interações espontâneas.

A melhor forma de estimular é entrar na brincadeira sem pressa, com presença e empatia.

Conclusão

Brinquedos e brincadeiras são pontes — eles conectam mundos, fortalecem vínculos e despertam o desenvolvimento em múltiplas áreas.
Quando o brincar é respeitoso e significativo, ele se transforma em terapia, aprendizado e amor.

Mais importante do que o brinquedo em si é a intenção e o olhar de quem brinca junto.
O lúdico é uma linguagem universal — e, para a criança autista, pode ser uma das formas mais belas de se comunicar com o mundo 🌈

Referências

  • American Psychological Association (APA). (2020). Play and child development: Importance of play in supporting child development.

  • Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). (2021). Manual de Orientações sobre Desenvolvimento Infantil e TEA.

  • Prizant, B., & Fields-Meyer, T. (2015). Uniquely Human: A Different Way of Seeing Autism. Simon & Schuster.

  • Greenspan, S. I., & Wieder, S. (1998). The Child with Special Needs: Encouraging Intellectual and Emotional Growth. Addison-Wesley.

  • National Autistic Society (UK). (2023). The importance of play for autistic children.

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